maio 03, 2010

this is goodbye

Ela tinha o sorriso mais branco, os olhos mais brilhantes e seu cabelo descia em ondas castanho claras pelas costas.
Gostava de animais e música, tocava violino, bateria e saxofone, sonhava em se casar e ter dois filhos, comia chocolate sem culpa, mas exibia o corpo perfeito.
Eu a amava. Pena que ela não existisse.
Então havia outra. Feia, muito feia. Seu sorriso parecia adorável, mas seus dentes ainda não eram brancos. Não como eu queria. Seus olhos não tinham toda a luz que eu esperava. Insistiam em transmitir as malditas emoções, o que me irritava. Quando ficava triste, seus olhos eram opacos. Horríveis. Detestava olhá-los. Fugia.
Seus cabelos eram amarelos. Dependendo da posição do sol, poderiam parecer dourados. Mas eram amarelos. E lisos.
Tinha alergia a cães. Alergia! Não podia nem se aproximar de um. Tinha um aquário com peixes, mas peixes são tão superficiais. Devia amar todos os animais, sem distinção.
Sim, gostava de música. Tocava violão. Mas só. Tão comum.
Queria se casar, mas não pensava nisso na época. Achou absurda a ideia de eu já ter nomes pré-definidos para os meus filhos ainda não concebidos.
Adorava chocolates, mas, se reparássemos bem, veríamos uma gordurinha aqui e outra ali.
Não gostava dela. Não gostava do seu sorriso e da sua satisfação por ser quem era. Ela nem chegava perto de ser perfeita, como podia sorrir?
Eu a evitava. Ela me perseguia. Em nenhuma das vezes que nos encontramos fora minha culpa. Era sempre por acaso. Morávamos na mesma rua e era natural que eu passasse pela sua casa. Por que ela insistia em me cumprimentar?
Mas como a educação não me faltava, sempre respondia. Às vezes, conversávamos sobre o tempo ou alguma tragédia recente. Um dia, me chamou pra entrar. Tomamos chocolate quente. Ela sorria. Olhando de perto, suas gordurinhas não faziam muita diferença. E seu sorriso... Eu gostava dele.
Quis tocar para que eu ouvisse. Consenti, não por educação, queria ouvir.
Eu disse que violão é comum? Não, é maravilhoso. O jeito que ela mexia seus dedos, e sua franja caía em seu rosto, e seus lábios dançavam no ritmo. Ela cantava. Não sabia que ela cantava. E a música era composição sua. Perfeita.
_O que disse?
Perfeita. Seus olhos sorriam de uma maneira maluca, estavam, não luminosos, mas lindos, encantadores, perfeitos. E seus cabelos atraíam meus dedos como imãs. E seus lábios.
Um dia, comprei para ela um anel. Da cor dos seus cabelos. Nos casamos, e tivemos três filhos. Fui pego de surpresa. Não tinha nomes o suficiente. Sem problemas. Ela inventou outros três. E pareciam perfeitos pra mim.
Fomos a um concerto. De uma velha amiga dela. Tocou saxofone, e depois violino.
_Ela tem uma banda, devia vê-la tocando bateria.
Jantamos juntos. Nos disse que queria se casar. Analisando seus olhos, que brilhavam bastante, quis saber quantos filhos pretendia ter.
Colocando na boca mais uma colher do seu sundae de chocolate, respondeu, com certeza:
_Dois.
Tirou a presilha que prendia seus cabelos castanhos e eles caíram em ondas pelas suas costas.
Respondi com um sorriso vazio. Ela só me olhou de canto.
Era feia, muito feia.

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